quarta-feira, 14 de março de 2012

AH, A DECEPÇÃO!

Dedilho na estante os livros que já li para mergulhar na minha memória e sugar partes deles que condizem com meu estado de espírito. E hoje me lembrei de um trecho da obra de Elizabeth Gilbert, uma turnê sentimental em busca de felicidade dentro de uma instituição chamada casamento. Mas não é sobre casamento que quero escrever e sim sobre decepções, mas logo explico o motivo desta lembrança.

Existe um velho dito popular, “quem planta expectativas colhe decepções”, o que nos compete a culpabilidade de nossas próprias frustrações. Claro, nada mais justo que ser responsável por nossas escolhas, sejam elas eloqüentes, ousadas, ou ponderadas.
Deste modo, procuro não fazer grandes perspectivas para não sofrer depois, porque entendo que nunca irei superar o meu entusiasmo. Mas às vezes isso é tão inevitável! Acabo sendo absorvida por uma enxovalhada de sensações , crio apegos por novas pessoas, sentimentos e situações e não consigo me advertir nessas horas que todo carnaval tem seu fim. Parece que nada no mundo foi feito para ser eterno, o viço de tudo tem seu tempo, assim como nós, ao envelhecermos. É triste, mas um dia aprendemos que o encantamento também se desgasta.

Mas nem por isso vou deixar de lado minha alegria de viver e nutrir uma boa convivência humana, porque a experiência supera a decepção. Saber como cada pessoa funciona é interessante e a verdade é sempre bem vinda e além do mais, de grandes males, grandes remédios.


Gilbert expressa bem isto quando conhece uma senhora viúva hmong do Vietnã que não entende o questionamento para saber se o falecido havia sido um bom marido, pois jamais a ensinam que sua tarefa na terra fosse ser felicíssima. Como nunca alimentou essa expectativa, ela não colheu nenhum desencanto específico com o casamento. O casamento cumpriu o seu papel, realizou a tarefa social necessária, tornou-se meramente o que era e isso é bom.

Porem, a mim sempre foi doutrinado a busca da felicidade como um direito de nascença e acredito que esta seja a marca registrada emocional de nossa cultura, profunda e exorbitante. Todavia, o tumulto emocional nos impulsiona a maturidade de lidar com a veracidade das coisas e com isso tornar a vida aceitável, sem perder o encanto.

É melhor manter um acordo diplomático com meu coração, ele pulsa para garantir que eu sobreviva as grandes emoções e eu só preciso conservá-lo dos grandes desapontamentos, mas como garantir a eficiência desta tarefa? Sou sentimental, humana e jamais imune ao amor. Ah, a decepção!Como é complexo a arte de decepcionar, mas seja como for, eu sei que sobreviverei e no final, terei aprendido um pouco mais da vida.




“As vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas. O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!”

Bob Marley

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Uma rosa vermelha, os parabéns pelo Dia Internacional da Mulher e alguém solta no fundo “felizes ficaríamos se hoje os homens dessem a nós, mulheres, uma folga, fizessem a janta enquanto ficássemos no sofá com o controle remoto nas mãos”, todas riram como sinal de aprovação.
Uma teoria interessante e talvez uma atitude masculina sábia investir algum esforço para deslindar o mistério do que é na verdade, ser companheira, esposa, amiga, mãe e ser mulher. Para tal façanha cursa quase toda gama de conhecimento humano. O enigma para ele é descobrir o que ela não sabe. Seria apenas uma forma de dizer “O seu papel tem importância”. Afinal todos nós temos tarefas a cumprir- algumas que cabem aos homens, outras que cabem às mulheres- e todos devem contribuir com o máximo de sua capacidade e é comum desejarmos, às vezes, um reconhecimento por isso. A mulher faz tudo por amor e com amo
r: cozinha, arruma, espera, ajeita. No entanto, precisa de apenas um dia de gratidão para recarregar suas energias durante o resto do ano.

Minha sugestão é para que os homens, maridos ou filhos valorizem as que driblam a vida para entregar o melhor de si em tudo que fazem e digam a elas, especialmente hoje, “obrigado”.

quinta-feira, 1 de março de 2012

SE A GENTE PÁRA, A VIDA EMPURRA

“Se a gente pára, a vida empurra”
Escutei isso sentada na sala, no momento em que tentávamos absorver o impacto da doença sobre meu tio. Infelizmente ele não resistiu e partiu para um lugar melhor, ao lado de Deus. Meu padrinho articulou essas palavras ao dizer que a vida teria que continuar. No entanto, diante tais acontecimentos, é evidente que nossos corações não sairiam intactos, pois ninguém espera perder uma pessoa amada, contudo fica certo que nossa história prossegue e torna-se impossível acuar, por mais que queiramos.
Triste episódio, dias difíceis, mas com a impressão de ter sido abençoada, porque tive a oportunidade de pegar na mão, de beijar, pedi perdão, dizer que amava e agradecer pela última vez, embora saiba que nem toda despedida será assim e o próximo encontro será algo incerto.
Lembro-me presentemente de um trecho da obra “A menina quem roubava livros”, onde a Morte sustenta a narrativa do livro e cita a seguinte teoria:
As pessoas só observam as cores do dia
no começo e no fim,
mas, para mim, está muito claro que o
dia se funde através de
uma multidão de matizes e entonações,
a cada momento que passa.

de cores diferentes.Uma só hora pode consistir em milhares
Amarelos céreos, azuis borrifados de
nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão
de notá-los.
A morte – A menina que roubava livros (Markus Zusak)
Com isso reflito o quanto nossos olhares transformam perante o nascimento e a morte, somos compreensivos, bonitos e não julgamos, todavia abafamos essa sensibilidade no trajeto “do dia” e deixamos de nos impressionar com suas cores, acostumamos com elas. Sábios são aqueles que têm a percepção que a felicidade e seus entretons não estão no fim ou começo da vida, e sim em cada curva do caminho que percorremos.

A gente não tem consciência do que o nosso amor é capaz, o que nossa natureza nos reserva, o poder da nossa indisciplina ou submissão. Não podemos prever nossa reação diante do susto, da paixão , da fome, do medo. Podemos vir a ser uma grata surpresa a nos mesmos. Porque falar a gente fala sobre tudo e sobre todos, o que mais temos é opinião, mas autoconhecimento, mesmo, a gente ganha é através do enfretamento, e não nas especulações e defesas pré-programadas, temos que ir além das teorias. E nessa linha de raciocínio, vejo que a morte tem um adversário à altura: a vida.