segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PENUMBRA

Estamos na era da comunicação, de recursos tecnológicos e facilidades. No entanto, o isolamento se destaca em meio de uma população considerável. Nas bancas de jornal, capas com títulos alusivos à solidão em pleno século XXI evidenciam um mundo caótico. Pessoas incomunicáveis se desencontram e como nunca fora visto na história da civilização, a arte de amar e viver, aos poucos, é abandonada e esquecida.

Será possível que esse pretenso progresso da humanidade não consiga dar ao homem aquilo que ele mais almeja? O dom de ser amado, reconhecido, respeitado, ter o direito de ir e vir preservado e principalmente de ser.

Hoje nossas casas já são cadeias publicas confortáveis, cercadas por grades e artimanhas de segurança. A liberdade já passa a ser um conceito ilusório e o prazer de viver, de sair de casa sem ter medo ou desconfiança passa a ser um ideal de civilidade.

Estou pensando nisso porque estava recordando os livros de George Orwell , escritor de uma sinceridade incontestável e um dos homens mais visionários que conheci através da literatura. Quem tem uma noç
ão básica de política e do mundo que vivemos se assusta de como algumas previsões deste autor parecem se tornar realidade lentamente. Em apenas duas obras as quais eu tive o agrado de ler, pude observar um incrível poder de percepção ao comportamento humano.

Em ambos os livros, a escrita translúcida de Orwell, descreve personagens com reforçados tons de personalidades que vivem aprisionados na engrenagem totalitária de uma sociedade, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Até que a ditadura é desafiada pelo sentimento libertador.

Na 'A revoluçã o dos bichos ', uma fábula sobre o poder, ele narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos, onde existe uma tirania, mais opressiva que a dos humanos. E em seu admirável livro “1984 ”, o último romance, o autor fez um trocadilho espetacular. Pois a obra foi escrita em 1948 como se estivesse num futuro próximo.

Ainda hoje, mais de sessenta anos depois de escrita, suas obras são vistas como uma arma ideológica e mantém o viço e o brilho das eternas fraquezas humanas.

Porém, o final dos dois volumes definitivamente não corresponde às expectativas de um mundo melhor. Pois os heróis das historias rendem ao sistema suas essências. É lastimável saber que as estatísticas que equiparem nossa sociedade a visão do autor corresponde grande magnitude.

Dizem que o homem é destinado à grandeza. Espero que esta nobreza seja de espírito e que a faculdade de exaurir as penumbras que se alastram o coração do mundo contemporâneo seja sua principal habilidade.

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