terça-feira, 31 de agosto de 2010

33 CORAÇÕES AFLITOS

Antes de começar a escrever, uma dúvida sempre me vinha à cabeça “será que terei temas para preencher mais de duas linhas?”. Agora que comecei a relatar assuntos de meu interesse, a questão é “será que devo mesmo escrever sobre isso?”. São tantos contextos diferentes, tantas possibilidades, uma loucura!Sabe aquele papo de que mente parada trava? Pois é, o inverso também acontece. Quanto mais você lê ou estuda mais faminta por informações a mente fica.
Hoje já pensei e repensei sobre vários assuntos que poderia escrever aqui. Mas uma notícia me chamou extraordinária atenção e seria um despropósito da minha parte não registrá-la neste espaço.
Trinta e três homens presos numa mina durante quatro meses em um espaço de apenas cinqüenta metros quadrados numa profundidade 700 metros. Não há saneamento básico, mas o ar e as reservas de água e de alimentos, medicamentos e afeto são inesgotáveis, graças a um sistema funcional de comunicações com o resto do mundo.


É difícil imaginar o que sentem neste preciso instante os homens presos há semanas nas entranhas de uma remota mina chilena. Conservar o físico e a mente saudável até serem resgatados é uma missão quase impossível, mas são nestas condições que vão ter de viver durante 120 dias. No entanto, com um autocontrole surpreendente, aqueles bravos homens enterrados vivos sustentam a esperança de regressar à civilização no Natal, isso se não houver algum imprevisto de última hora.

O quem mais me impressiona nessa história é a maneira com que estes homens reagem positivamente com a realidade que os cercam. Quando vi as primeiras imagens de vídeo vindas do refúgio, revelando seus rostos felizes e calmos fui tocada por um sentimento de gratidão por estar aqui, no conforto da minha casa, com parentes saudáveis e amigos salvos.

Costumo dizer “somos mais fortes do que imaginamos. Temos uma fortaleza interior que nos faz superar qualquer dificuldade”. E agora, mais do que nunca, enxergo a verdade dessa afirmação. O amor realmente é contagioso. É comovente ver como a ternura pelo próximo se multiplica nas ocasiões difíceis. O mundo inteiro presta humanidade àquela casa bunker que pulsa no ritmo de 33 corações aflitos.

Um trabalhador que ajuda no resgate declarou “é preciso ter respeito pela vida, agradeço a Deus quando chego e quando vou embora”.

A grande mágica da vida está na inteligência com que o ser humano se acomoda a tudo, na inusitada busca de alegria sob qualquer circunstância e na sutileza que descobre o poder de Deus em sua vida.

Um dos mineiros escreveu à mãe “havia me esquecido de quantas costelas eu tinha, estou emagrecendo muito, mas graças a Deus posso contá-las”.

Hoje, eles ganharam uma bíblia de tamanho ideal, que passa no duto de apenas doze centímetros de largura, com trechos de conforto em destaque. Nas palavras de conforto encontramos a força que precisamos para nos renovar diariamente.

“O SENHOR o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na terra, e tu não o entregarás à vontade de seus inimigos” (Salmo 41)

Repouso numa cama confortável. Fortaleço-me no exemplo de conduta desses homens ligados ao mundo por um pequeno cordão umbilical e horas depois desperto, não apenas para o dia, mas para uma vida plena, colorida e cheia de esperanças.





Dayane Salvador




Imagem: Sue Dias

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