segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ya pihi ikama


Certa noite enquanto apreciava as estrelas, emprestei a vivacidade dos meus olhos naquela atmosfera de luz e perguntei “Será que é realmente isso?” e respondia, “É, é isso.”
Uma sensação recorrente de contrariedade e quase descrença “Será que isso sou eu?” invadia meu coração. Contudo, embora eu me sentisse eventualmente insatisfeita, como se algo estivesse faltando, nunca me esqueci do quanto era afortunada, o que eu ambicionava era simplesmente contemplar a magnificência dos momentos, dos sentidos, da existência ou do que escolhi para minha vida. Não gostaria de olhar para trás, no final da minha história ou depois de uma grande catástrofe, e refletir: “Que vida maravilhosa eu tive, ah se eu tivesse me dado conta disso.”

Todos esses pensamentos imergiam minha mente e a frase de Nietzche gritava dentro de mim :"É preciso ter um caos dentro de si para gerar uma estrela que dança", ainda fitando a constelação, compreendi: eu não era feliz quanto poderia ser e minha história não iria mudar exceto que eu fizesse a mudança acontecer.
Nesse exato momento eu “mudei as lentes” através das quais tudo me parecia familiar.

Era o momento de esperar mais de mim, pois eu queria uma nova vida e isso me daria uma nova oportunidade de reiventar valores e fortalecer meu caráter, restruturar a maneira de pensar e agir e acima de tudo, ser uma pessoa melhor. Porem, toda vez que pensava na felicidade esbarrava em paradoxos, então achei melhor definir alguns mandamentos para me ajudar na luta para manter minhas decisões.

Hoje irei abordar o primeiro mandamento: "Ser eu mesma, da forma mais transparente e sincera possível, comigo e com as pessoas que me cercam.”

Há um ditado Zen de imenso valor que diz:"Se encontrar Buda no caminho, mate-o”. No entanto, Buda faleceu há 25 séculos e esta epístola não diz a respeito sobre “aonde” ou de
“que jeito” você pode matar alguém que já está morto. Esta é uma mensagem para o discípulo que ama tanto Buda, que existe a possibilidade de que este se torne sua última barreira. Afinal, você deve tanto para o mestre, ele tem sido sua fonte, sua transformação, mas não há necessidade nem de dizer adeus; mate o mestre, para que não haja necessidade de olhar para trás; mate o mestre, para que você agora possa estar totalmente só, com nem mesmo a sombra do mestre com você. E isto é feito em grande agradecimento, em grande gratidão. (Osho)

Todos tropeçam em mestres no dia-dia, pessoas dotadas de sabedoria e grandes virtudes compartilham o bem de forma que nos tornemos pessoas mais dignas. Sempre levam um pouco de nós e deixam um pouco de si, como os índios ianomâmi da Amazônia quando, ao falar “eu amo você”,dizem “Ya pihi ikama”que significa “fui contaminado pelo seu ser”- uma parte de você entrou em mim, vive em mim e cresce em mim. Contudo, é importante conhecer a própria essência para estabelecer uma relação verdadeira com a humanidade.

Para sermos plenamente humanos, devemos constituir com o outro uma relação o mais autêntica possível. É preciso ultrapassar a imagem que temos de nos mesmo e a que fazemos dos outros. Devemos saber, no mais intimo de nós, que somos livres para reconstruir, para transformar e aprender a atribuir ao outro este mesmo poder.

"Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim mesmo a correr. Eu apendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora voo, agora vejo por baixo de mim mesmo, agora um Deus dança em mim"
Friedrich Nietzche

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